Eu me sinto de luto. Esse sentimento se instalou dentro de meu coração desde que soube do acidente do vôo 3054 da TAM na última terça-feira. Primeiro foi pelas vítimas, depois por aqueles que ficaram com a dor da perda. Na medida em que ia tomando consciência do significado da “tragédia anunciada”, como impressa e várias pessoas respeitáveis deste país estão chamando o acidente, o meu sentimento de luto foi tomando outras proporciones: hoje eu me sinto de luto por mim e por todos os habitantes deste país que vivenciam o escárnio do atual governo deste país.
Sobre o acidente está claro para mim, que houve no mínimo por parte das autoridades competentes, pouca atenção à crise aérea que vem assolando o Brasil desde o segundo semestre do ano passado. Não cabe a mim, muito menos neste blog, ficar fazendo conjeturas sobre as possíveis causas; prefiro dedicar meu tempo a promover um pensar sobre as atitudes das autoridades que nos representam.
Desde o acidente e até onde eu consegui acompanhar na imprensa, o governo que nos representa na figura máxima do presidente, só se manifestou diretamente, na sexta-feira, 3 dias após o acidente. No dia seguinte ao acidente, o presidente da Tam deu uma entrevista coletiva. Independente de seu conteúdo, ele esteve junto com o alto escalão técnico da TAM, pessoalmente perante a imprensa para dar a cara para bater. É assim que uma pessoa que ocupa um alto cargo tem que agir. Faz parte da responsabilidade do cargo se expor, se manifestar e aceitar a crítica do público com o qual interage. Se essa pessoa não tem a sobriedade, respeito, postura e hombridade suficiente para fazer isso então, no mínimo, não está apto para assumir um cargo como esse.
Um amigo me lembrou da abertura dos Jogos Panamericanos e as vaias fortes contra o Lula e como ele, covardemente, deixou de abrir os Jogos. Ele não foi capaz de encarar o Maracanã em peso vaiando-o. É a primeira vez na história do Pan que o presidente do país sede dos Jogos não abre oficialmente as competições. Penso na probabilidade de sermos também lembrados por isso, cada vez que houver retrospectivas dos Jogos Panamericanos no mundo inteiro.
Mas voltando ao acidente, nos dias seguintes ao acidente acompanhei assombrada (sim, ainda fico) como o governo continuou agindo. Eu nem acreditei quando vi a condecoração do Milton Zuanazzi da ANAC. Não conheço os motivos e desde quando a cerimônia de condecoração estava programa, mas o bom senso e o respeito deveriam promover, pelo menos, que a cerimônia fosse adiada.
Muita gente não deve nem perceber o que significa a ausência de autoridades merecedoras dessa posição e responsabilidade num momento como este, mas é bom lembrar que uma Autoridade nos representa e representar significa “ser a imagem ou a reprodução de”. Isto quer dizer que a autoridade que colocamos no governo é a nossa imagem ou reprodução. Aliás, até onde entendo de democracia, ela foi eleita para realizar esse papel. Por isso, em minha opinião, a autoridade deveria ser melhor de que cada um de nós, dado o cargo que ocupa. Ela deveria servir como um guia, alguém a quem admirar e ter como referência.
Mas o que vejo é um horror, de ai o meu luto. Ouvi várias vezes o pronunciamento do Lula na sexta-feira e fiquei indignada logo no início quando ele começa com: “meu amigos e minhas amigas” na busca de parecer próximo, aliado. Senhor presidente, eu não quero ser sua amiga, eu quero é alguém que tenha decência e postura relativa ao cargo que ocupa. Eu sei como bem lembrou seu assessor Marco Aurélio Garcia, após ser pego fazendo gestos chulos, que o senhor foi eleito pela grande maioria para representá-la, mas quero que saiba que a mim e a minha família, felizmente o senhor não representa.
segunda-feira, 23 de julho de 2007
sexta-feira, 13 de julho de 2007
Quando um homem decide olhar para si
Há poucos dias meu marido tornou pública a sua decisão de deixar o grupo em que trabalha há 8 anos e iniciar um novo caminho, provavelmente no mundo empresarial. Estou muito orgulhosa pela sua decisão, mais ainda, por conseguir compreender todas as implicações existentes na decisão de um homem, responsável e maduro como ele, ao deixar o que é considerado seguro, seu emprego, pelo incerto, o seu futuro.
Desde que se tornou pública a decisão, muitos amigos, colegas, conhecidos têm falado ou escrito para nós fazendo comentários, desejando boa sorte e para minha surpresa, em praticamente todos, tenho percebido admiração e o desejo profundo de fazer o mesmo. É para essas pessoas que eu quis escrever hoje: contar o que é ter o privilégio de acompanhar o processo de renascimento de um homem.
Meu marido, como muitos, iniciou e sempre fez carreira corporativa o que lhe brindou maravilhosos aprendizados, conheceu diversas culturas, pessoas, além de conseguir uma vida confortável. Mas o mundo corporativo, como tudo na vida, cobra seu preço e promove no funcionário, em minha opinião, a dependência e a perda de identidade, ao ponto de chegar a associar o próprio sobrenome ao da corporação sem se dar conta; mais do que isso, achando necessário, normal e bom.
Meu marido passou desse estágio para a decisão de sair, gradualmente, sem sobressaltos, sem traumas. Não o fez planejadamente como muitos o fazem, se organizando, fazendo investimentos, buscando outras oportunidades enquanto ainda está na corporação porque, além de não ser o estilo dele, a grande questão é que ele não se preparou, em minha opinião, para deixar a vida corporativa: a decisão foi uma conseqüência e não o foco da sua busca. O que meu marido vem buscando de forma honesta e firme, nos últimos anos, é se tornar um homem melhor.
E o fez de uma forma muito linda, trabalhando seu interno através de terapia, feita rigorosa e valentemente, questionando-se e questionando tudo, enfrentando suas sombras e medos, às vezes com dor, às vezes com belas surpresas, mas sempre firme no seu propósito de descobrir afinal quem ele é e o que ele quer ser daqui para frente. No caso dele, o que deseja ser teve que passar pela ruptura com o mundo corporativo, pelo menos da forma como ele vinha se relacionando. Mas isso, como já disse, foi conseqüência.
Isso significa que ele está sem medos? Claro que não. O medo faz parte, mas ele está se sentindo mais seguro em enfrentá-los. Tem consciência que talvez erre, talvez caia, até porque ele nunca foi assim, mas com certeza há algo que ele tem hoje mais ainda: orgulho de si mesmo, aquele orgulho que a gente sente ao se olhar sozinho no espelho.
Acredito e sinto que estejamos em um momento de rupturas, de todos os tipos e níveis, por isso se eu puder dar uma sugestão embasada no privilégio de ter vivido o passo a passo da transformação de um homem, eu lhes digo que o emprego, o quê fazer, vem depois. Primeiro tente, de sua forma, seja ela qual for mas honesta, firme, disciplinada e corajosamente, saber quem você é de verdade e o que te faz feliz. Tenha a humildade de procurar ajuda, de rever conceitos. Procure ser um ser humano melhor. Tenha certeza que o mundo agradecerá.
Desde que se tornou pública a decisão, muitos amigos, colegas, conhecidos têm falado ou escrito para nós fazendo comentários, desejando boa sorte e para minha surpresa, em praticamente todos, tenho percebido admiração e o desejo profundo de fazer o mesmo. É para essas pessoas que eu quis escrever hoje: contar o que é ter o privilégio de acompanhar o processo de renascimento de um homem.
Meu marido, como muitos, iniciou e sempre fez carreira corporativa o que lhe brindou maravilhosos aprendizados, conheceu diversas culturas, pessoas, além de conseguir uma vida confortável. Mas o mundo corporativo, como tudo na vida, cobra seu preço e promove no funcionário, em minha opinião, a dependência e a perda de identidade, ao ponto de chegar a associar o próprio sobrenome ao da corporação sem se dar conta; mais do que isso, achando necessário, normal e bom.
Meu marido passou desse estágio para a decisão de sair, gradualmente, sem sobressaltos, sem traumas. Não o fez planejadamente como muitos o fazem, se organizando, fazendo investimentos, buscando outras oportunidades enquanto ainda está na corporação porque, além de não ser o estilo dele, a grande questão é que ele não se preparou, em minha opinião, para deixar a vida corporativa: a decisão foi uma conseqüência e não o foco da sua busca. O que meu marido vem buscando de forma honesta e firme, nos últimos anos, é se tornar um homem melhor.
E o fez de uma forma muito linda, trabalhando seu interno através de terapia, feita rigorosa e valentemente, questionando-se e questionando tudo, enfrentando suas sombras e medos, às vezes com dor, às vezes com belas surpresas, mas sempre firme no seu propósito de descobrir afinal quem ele é e o que ele quer ser daqui para frente. No caso dele, o que deseja ser teve que passar pela ruptura com o mundo corporativo, pelo menos da forma como ele vinha se relacionando. Mas isso, como já disse, foi conseqüência.
Isso significa que ele está sem medos? Claro que não. O medo faz parte, mas ele está se sentindo mais seguro em enfrentá-los. Tem consciência que talvez erre, talvez caia, até porque ele nunca foi assim, mas com certeza há algo que ele tem hoje mais ainda: orgulho de si mesmo, aquele orgulho que a gente sente ao se olhar sozinho no espelho.
Acredito e sinto que estejamos em um momento de rupturas, de todos os tipos e níveis, por isso se eu puder dar uma sugestão embasada no privilégio de ter vivido o passo a passo da transformação de um homem, eu lhes digo que o emprego, o quê fazer, vem depois. Primeiro tente, de sua forma, seja ela qual for mas honesta, firme, disciplinada e corajosamente, saber quem você é de verdade e o que te faz feliz. Tenha a humildade de procurar ajuda, de rever conceitos. Procure ser um ser humano melhor. Tenha certeza que o mundo agradecerá.
quarta-feira, 4 de julho de 2007
A mentira nossa de cada dia
Comecei a escrever este texto há uma semana atrás, mas viagens e confusões retardaram minha postagem. Isso de certa forma me ajudou a refletir mais sobre o assunto da postagem: a mentira inserida no nosso dia-a-dia.
Nas empresas que visito, o conceito de ‘verdade’ costuma aparecer na lista de valores que regem a corporação e para onde você olha, o desejo de verdade está latente, mas já tentou ser verdadeiro um dia inteiro, do início ao fim?
Se pararmos para observar – e eu o fiz nestes dias – reparamos que a mentira está, sorrateiramente, inserida ao longo do nosso dia praticamente desde que acordamos até que voltamos a deitar. Muitas vezes está na saudação que damos comentando como a pessoa está ‘linda’ embora tenhamos notado que ela não esteja bem. Está no gesto rápido que fazemos à nossa assistente para dizer que não estamos porque não queremos atender alguém. Está na desculpa esfarrapada que damos para não sair com alguém. Enfim um rosário de “mentiras lights”, como classificou uma amiga muito especial, que rezamos ao longo de cada santo dia.
Estou sendo muito radical? Ótimo se isso nos faz ir até a raiz da questão. Vamos usar a classificação da minha amiga imaginando que existem mentiras lights, mentiras médias e mentiras pesadas. O difícil será estipular os limites de cada classificação por envolver valores pessoais e sociais. Em muitos grupos sociais as mentiras lights serão consideradas cortesias e vistas de forma positiva porque facilitam a sociabilização. Por outro lado, acredito que as mentiras pesadas sejam mais fáceis de classificar por gerar conseqüências que promovem uma reprovação pela maioria das sociedades.
Mas indo para a raiz: não estamos, afinal, falando da mesma coisa: a mentira, que nada mais é do que a falta com a verdade? Para mim, a nossa tentativa, talvez latina, de relativizar tudo, e assim escolher o que melhor nos convém, tem nos levado a banalizar a mentira – a falta com a verdade – que nos permite aceitar cada vez mais mentiras a nossa volta, na nossa vida, no nosso mundo. Se isso for verdadeiro – e não mentira – isso significa que vivemos em um mundo faz de conta: o que as pessoas dizem pode não ser verdade, o que consideramos verdadeiro talvez não o seja. E eu me pergunto o quanto queremos viver na verdade?
Voltando a minha amiga, quando comentei o tópico desta postagem ela disse: “ai também é demais, se for para vivermos só na verdade dessa forma, então teremos que viver numa bolha”, fazendo referência à aceitação social da mentira. Correto, hoje teríamos que viver em uma bolha separados do ambiente social, mas não será o contrário: que a gente criou uma bolha que nos separa do que é real e verdadeiro?
Quando as empresas e pessoas pedem por mais verdade, elas estão pedindo exatamente o quê? O quanto cada um de nós consegue viver cada dia com mais verdade até nos pequenos gestos do dia-a-dia. Tai um grande desafio que pode ser a nossa contribuição real por um Mundo Melhor.
Nas empresas que visito, o conceito de ‘verdade’ costuma aparecer na lista de valores que regem a corporação e para onde você olha, o desejo de verdade está latente, mas já tentou ser verdadeiro um dia inteiro, do início ao fim?
Se pararmos para observar – e eu o fiz nestes dias – reparamos que a mentira está, sorrateiramente, inserida ao longo do nosso dia praticamente desde que acordamos até que voltamos a deitar. Muitas vezes está na saudação que damos comentando como a pessoa está ‘linda’ embora tenhamos notado que ela não esteja bem. Está no gesto rápido que fazemos à nossa assistente para dizer que não estamos porque não queremos atender alguém. Está na desculpa esfarrapada que damos para não sair com alguém. Enfim um rosário de “mentiras lights”, como classificou uma amiga muito especial, que rezamos ao longo de cada santo dia.
Estou sendo muito radical? Ótimo se isso nos faz ir até a raiz da questão. Vamos usar a classificação da minha amiga imaginando que existem mentiras lights, mentiras médias e mentiras pesadas. O difícil será estipular os limites de cada classificação por envolver valores pessoais e sociais. Em muitos grupos sociais as mentiras lights serão consideradas cortesias e vistas de forma positiva porque facilitam a sociabilização. Por outro lado, acredito que as mentiras pesadas sejam mais fáceis de classificar por gerar conseqüências que promovem uma reprovação pela maioria das sociedades.
Mas indo para a raiz: não estamos, afinal, falando da mesma coisa: a mentira, que nada mais é do que a falta com a verdade? Para mim, a nossa tentativa, talvez latina, de relativizar tudo, e assim escolher o que melhor nos convém, tem nos levado a banalizar a mentira – a falta com a verdade – que nos permite aceitar cada vez mais mentiras a nossa volta, na nossa vida, no nosso mundo. Se isso for verdadeiro – e não mentira – isso significa que vivemos em um mundo faz de conta: o que as pessoas dizem pode não ser verdade, o que consideramos verdadeiro talvez não o seja. E eu me pergunto o quanto queremos viver na verdade?
Voltando a minha amiga, quando comentei o tópico desta postagem ela disse: “ai também é demais, se for para vivermos só na verdade dessa forma, então teremos que viver numa bolha”, fazendo referência à aceitação social da mentira. Correto, hoje teríamos que viver em uma bolha separados do ambiente social, mas não será o contrário: que a gente criou uma bolha que nos separa do que é real e verdadeiro?
Quando as empresas e pessoas pedem por mais verdade, elas estão pedindo exatamente o quê? O quanto cada um de nós consegue viver cada dia com mais verdade até nos pequenos gestos do dia-a-dia. Tai um grande desafio que pode ser a nossa contribuição real por um Mundo Melhor.
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