domingo, 13 de maio de 2012

A arte e a intensidade da vida

Ontem fui ver a exposição Guerra e Paz de Cândido Portinari. Quando vi os dois murais imensos (10 X 14) parei e fiquei captando cada sentimento transmitido nas expressões, nas cores, no atos retratados nos painéis. Depois vem o filme com Milton Nascimento falando sobre o que é Guerra e o que é Paz. Não tem como não ser tocada pela emoção e intensidade do Portinari.

A exposição é maravilhosa e revela o esforço e a grandiosidade do Projeto Portinari. Por trás disso, um filho querendo honrar seu pai. O depoimento dele me tocou especialmente. Fiquei pensando como deve ser difícil para um filho ou uma filha ter um personagem tão importante na vida. Por um lado, o orgulho, por outro, a necessidade de criar uma identidade própria. Muitos não conseguem se livrar disso e fogem da sombra do pai ou da mãe tentado sempre se provar. Há momentos que a distancia é necessária. Há momentos que a raiva, natural, toma conta, e após dela vem o desenho de renegar a herança; mas depois vem o momento da pacificação. Do reconhecimento da herança e nosso desejo de honrá-la. Me parece que é isso que tem acontecido com João Cândido Portinari. 




Sem dúvida não deve ter sido nada fácil ser filho do Portinari, dada a intensidade do pintor em viver a vida através de sua arte. Alguém intenso não é todo mundo que aguenta, mas são essas pessoas que nós  lembram o importante. Nos tiram da rotina, do cotidiano, nos ajudam a nos integrar e permanecer nessa integridade que é viver a vida com presença. Estando onde se está. Pleno, completo.

Já emocionada por toda a exposição, uma frase do Portinari, fez o ato de misericórdia, e me abriu por completo para sentir a arte desse pintor: "Fui proibido de pintar. Fui proibido de viver". Cândido Portinari morreu com 59 anos por intoxicação pelas tintas que tanta vida lhe deu.

domingo, 6 de maio de 2012

Viva Elis, amor e entrega


Uma das coisas que meu marido me deu nestes anos de relacionamento foi a música. Foi assim que fui apresentada ao maestro Tom Jobim, Vinicius de Moraes e muitos outros compositores e cantores que fizeram deste país o país da música. 

Aprendi a conhecer sobre melodias, notas e reconhecer letras mobiliadora de sentimentos. Alguns aprendi a gostar e respeitar, outros a conexão foi instantânea. Foi o caso com Elis Regina. Amor e paixão a primeiríssima vista. Sua voz potente, visceral me pegou em cheio. Ouço Elis sempre. Ela me leva para mundos internos e externos. Pela suas escolhas de letras politizadas, fui conhecendo um Brasil da ditadura, das diferenças sociais. A sua intensidade - tanto na vida como na música -  dificilmente deixa alguém imune após ouvi-la.

Conheci a Maria Rita no seu primeiro show. O que mais contribuiu a admirá-la foi reconhecer nela a coragem de cantar sendo filha de Elis. A inevitável tentativa do público e imprensa de ressuscitar Elis nela, poderia ser um peso muito grande de carregar. 

Foi com esse sentimento que fui assistir o show Viva Elis promovido pela Nivea. Até então Maria Rita tinha seguido seu próprio caminho e, me parece, seria a primeira vez que ela cantaria canções interpretadas pela sua mãe, num show dedicado exclusivamente a ela. Difícil pensei, Elis é Elis.

O que vi no palco foi um ato de Amor e Entrega. Maravilhoso, emocionante, marcante. Vi uma filha querendo honrar a mãe. Querendo, como ela mesma disse, que sua mãe possa chegar as gerações que não tiveram a sorte de conhecê-la. Vi uma filha prestando homenagem à mãe, de quem lamenta não lembrar porque a perdeu aos 4 anos de idade. Homenagem oferecida com humildade, emoção a flor da pele, inteireza. 

Impossível não se emocionar e compreender que quando estamos munidos de amor no coração, a coragem vem. Lindo Maria Rita e João Marcelo Boscoli. Linda homenagem.